Está na hora da consulta com o meu paciente, o Nestor. Um caso muito particular para mim, pois Nestor criou em sua cabeça a ilusão de que ele na verdade sou eu. Quero dizer, ele acha que é o doutor Joaquim. E ele passa o dia receitando remédios e tratamentos para os outros pacientes. O caso dele não chega a representar perigo para as outras pessoas, mas por se tratar de um distúrbio que está profundamente arraigado em sua consciência, a família achou melhor que se aplicasse algum tratamento, que envolvesse internação pelo menos pela maior parte do dia. Como este caso é excepcional, eu criei um tratamento especial para ele.

- Bom dia, doutor. Está tomando seus remédios regularmente?

- Sim, e o senhor, doutor?

- Claro, como me receitou.

O tratamento basicamente consiste em alimentar sua fantasia ao máximo. Para isso, nós deixamos que ele se vista como um médico. Permitimos a ele que visite outros pacientes aqui internados. Para dar maior realismo, eu me visto de paciente o dia inteiro e até deixo que me apliquem remédios e me coloquem em uma camisa de força, depois que eu finjo ter um surto psicótico. Deixamos que ao fim do dia ele possa sair do sanatório e ir para minha casa, onde vive com minha família. E eu, fico aqui, dentro de uma sala trancada, onde as enfermeiras tomam conta de mim.

Como deve ser triste ser louco como o Nestor.